Ser Pai ou Mãe de Santo não é um título de vaidade. É uma missão espiritual que exige renúncia, responsabilidade e um coração blindado contra as dores da ingratidão. Na Umbanda, muitos falam sobre fé, espiritualidade e axé, mas poucos sabem o que realmente significa sustentar um terreiro. Ainda menos compreendem os limites que precisam existir para que a hierarquia funcione com equilíbrio e respeito.
Estamos vivendo tempos em que a espiritualidade virou palco de ego inflado, vaidade disfarçada de evolução e falta de limites sendo confundida com liberdade. E é justamente sobre isso que precisamos falar.
Pai de Santo não é terapeuta da sua vida
O Pai ou Mãe de Santo tem, sim, a função de zelar pelo espiritual da casa e dos filhos. Mas não é obrigação de ninguém carregar os problemas emocionais, amorosos, familiares ou financeiros de todos que entram em um terreiro. Isso se faz por amor, por compaixão, mas não porque é uma responsabilidade assumida ao vestir o branco.
Cuidar do espiritual é uma coisa. Ser responsável por todas as áreas da sua vida é outra. Quando um dirigente espiritual dá conselho, ouve e acolhe, é um presente, não um dever.
Hierarquia não é autoritarismo – é proteção espiritual
O terreiro precisa de ordem. Ponto. E ordem exige liderança, organização e respeito à hierarquia espiritual. Pai de Santo não grita por prazer. Não impõe regras por vaidade. Ele sustenta o axé da casa, direciona os trabalhos, segura os conflitos energéticos e ainda lida com a responsabilidade kármica de cada filho que chega ali.
Quando uma pessoa entra em um terreiro e acha que pode responder, desafiar, debochar ou querer mandar mais do que quem cuida da casa, ela não entendeu absolutamente nada sobre espiritualidade. E mais: está colocando em risco o equilíbrio energético da corrente.
Liberdade não é libertinagem. O terreiro é sagrado. E o respeito começa dentro do portão.
Brincadeira tem hora. E respeito tem que ser o tempo todo.
Quem está acostumado a brincar com tudo, a rir de tudo, a achar que pode tudo, precisa lembrar que o terreiro não é um bar. Não se brinca com a fé, com a liturgia, com os ritos, com os guias e nem com o dirigente espiritual. Quando você desrespeita o Pai de Santo com piadas fora de hora, ironia, risadinhas, fotos indevidas ou comentários atravessados, você não está sendo “espontâneo” – está sendo leviano.
Brincadeira sem limite é abuso disfarçado de “jeitinho”. E o terreiro não é lugar para esse tipo de comportamento.
Não confunda autoridade com ameaça.
Colocar ordem, impor-se quando necessário e cortar o que está desequilibrado não é “ser temido” – é ser responsável. Infelizmente, tem gente que só respeita quem grita ou humilha. Quando encontra um dirigente firme, mas justo, tenta desmoralizar, inverter os papéis e pintar como "autoritário" aquele que está apenas fazendo o que é necessário.
Quem quer respeito precisa começar respeitando. Quem não aceita ser corrigido não está pronto para crescer espiritualmente.
O que o Pai de Santo precisa? Apoio. Compromisso. Respeito.
Ele não precisa que você finja obediência e o critique pelas costas. Não precisa que você diga “sim” e não cumpra. O que o dirigente espiritual mais precisa é de pessoas que estejam ali com verdade, com vontade de aprender, com humildade para ouvir e com disposição para servir à espiritualidade – não ao próprio ego.
E você, filho ou filha de santo, que acha que “lavar o chão não é sua função”, que “já sabe demais para seguir ordem” ou que “ninguém manda em você”: lembre-se de que o terreiro não precisa de você. Você é que precisa do terreiro.
Conclusão: Se não há respeito, não há Axé!
Umbanda é entrega, é humildade, é disciplina. Um terreiro sem ordem vira festa. Um dirigente sem respaldo vira saco de pancada. E uma corrente sem hierarquia vira uma linha de ego ferido competindo para ver quem tem mais espiritualidade no discurso e menos coerência nas atitudes.
Se você está em um terreiro, entenda seu lugar, sua missão e seus limites. O Pai de Santo não é seu inimigo. Ele é seu pilar, seu guia espiritual, seu escudo contra o invisível.
E para quem acha que pode tudo: cuidado. Porque o espiritual vê o que os olhos humanos não enxergam.
Axé aos que respeitam. Silêncio aos que provocam. Justiça aos que carregam o terreiro nas costas.
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